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Imprimem os artistas com suas linguagens próprias a cartografia da vida, da vida pessoal, muitas vezes, e da vida pública, outras tantas vezes. Tecem um leque de lembranças férteis que, acumuladas nas camadas da memória dão vigor para a abertura do íntimo e do não íntimo numa espécie de diálogo entre o mundo exterior e interior, travando uma “batalha” entre o real e o imaginário, visão e aparelho fotográfico que, juntos, constroem no imaginário do espectador  paisagens pessoais e ansiosas por narrar segredos e delícias da liberdade sem fronteiras. Assim é a construção no conjunto da obra de Caíque Costa, artista que perpassa barreiras técnicas e estéticas, sem medos, sem pudor e com grande vigor visual.


Caíque apresenta nesta mostra a sua paixão pelo mar. Ele viveu o Mar da infância e no presente vive o Mar do ser adulto, caminhante, com fortes ligações com a água. Suas imagens fazem parte de um contexto de redescobertas estéticas para o qual o olhar do espectador se embaralha numa certa confusão necessária ao novo após o fotógrafo redesenhar seu objeto visual através do modus operandi genitor. Não está presente nas imagens de Caíque a rigidez do ser, senão a fluidez do movimento da vida como marca dos seres e objetos que pertencem ao mar, como a construção da concha cujo habitar se transforma na casa ou na embarcação como meio de deslocamento. Dessa forma, a obra de Caíque Costa se estrutura no fenômeno da importância da água como líquido precioso que nos move para dentro e fora dele, que está em nosso corpo, que alinha nosso olhar, que nos faz ir e vir. Em uma narrativa poética, nos sopra o autor da canção quem vem pra beira do mar: “A onda do mar leva / A onda do mar traz / Quem vem pra beira da praia, meu bem / Não volta nunca mais” (Dorival Caymmi).


O conjunto de imagens fotográficas presentes nesta mostra traduz o movimento de partida e de retorno ao mar, para os desejos de estar no mar, e para as histórias que habitam o mar.


Edgard Oliva
Artista visual e curador
Professor de fotografia na EBA/UFBA

 

Texto escrito para a exposição E todo caminho deu no mar, realizada no Palacete das Artes, em 2018.

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