O olhar de Caíque Costa navega entre a pintura e a fotografia, numa produção de imagens que imprimem um “violento” movimento do sujeito, no recorte da sua poesia visual.
Caíque nasceu para o mar; AMAR O MAR, versam os poetas; uma maneira de dedicar olhar especial sobre a lâmina d’água que nos faz resgatar lembranças, desejos... contudo, faz grande diferença quando o olhar do artista traduz o constante das ondas da água em extensões poéticas. O MAR e seus habitantes, sejam eles naturais ao ambiente aquífero ou aqueles construídos e postos pelo homem, como as embarcações registradas nesse ensaio fotográfico, nos são apresentados por um olhar que enfrenta a obviedade do fato a favor de uma força extra que eleva a condição de objetos encontrados para objetos reflexivos. Poeticamente, como que domado por um sentido do olhar inverso – do objeto para a câmera -, no qual, e naquele instante, o ver se apropria de um certo grau de retorno à pintura, a prática de Caíque Costa imprime ao sujeito um movimento intencional, fragmentado, flutuante e leve, que conduz a um resultado de grande potência estética. Caíque abusa da forma em seu estado de DESFORMA, explora a luz e volumes à maneira dos impressionistas, distribui os elementos no espaço como um construtivista. Assim, dá-nos a impressão de que está tudo “borrado” em um conjunto visual fora do lugar; no entanto, reelabora com propriedade, e com vigorosa liberdade, a sua maneira de fotografar, tal a força do desenho, da escultura, da performance e do vídeo, sob uma cadeia multidisciplinar que os aproxima.
As imagens que Caíque Costa nos apresenta são frutos de um olhar inquieto, de grande expectativa, de poderoso movimento ascendente, de um vento que não existiu, mas que se faz notar.
Prof. Dr. Edgard Oliva
Curador
Texto escrito para a exposição Do fundo da alma toquei a superfície, realizada na Galeria do Aluno da Escola de Belas Artes da UFBA, em 2017.