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Ainda hoje, depois de tanto tempo

Da ideia à produção de um trabalho artístico sobre a solidão, levou muito tempo. A forma relacional, bastante intersubjetiva, demandou uma abertura da intimidade que eu reservava a poucos - porém, sempre com intensidade. Precisei de coragem para contar minha história e, a partir dela, tocar tantas outras. O mesmo aconteceu agora, com este projeto. Quase dois anos após a abertura da exposição "Sinto-me só. Escreva-me carta de amor.", li, uma a uma, as mensagens escritas pelos visitantes que pude guardar. Fiz o movimento oposto: revisitei minha história de vida, engordada pelo tempo, a partir de outras. Esta série mostra um compilado de mensagens, agrupadas ou isoladas, postas em diálogo direto comigo. Como de costume, não há pensamentos conclusos; apenas suspiros de uma experiência em constante andamento.

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A base do diálogo é o interesse mútuo. Qualquer relação inicia por aí e toma caminhos diversos. Nada acontece sem abertura, mesmo que fiquemos vulneráveis. Isso é imprescindível para estabelecer intimidade. Na exposição, exibi o bilhete enviado por uma pessoa, que respondia ao anúncio do jornal, pedindo: "Eu quero saber um pouquinho mais de você". O envelope continha também um coração recortado à mão e decorado com glitter. Poucas palavras, e até o silêncio, podem conter mais significados do que dúzias de impessoalidades.

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"Amor", com suas variantes, talvez tenha sido, junto com "solidão", a palavra mais mencionada nas mensagens escritas pelos visitantes da exposição. Muitas delas foram declarações à pessoa amada ou  até pedidos de casamento. Pergunto se a beleza dessas mensagens pode esconder um pensamento imediato de oposição à solidão, quem sabe uma pretensa cura para ela. Não há amor na solidão?

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A realização do artista está no encontro com o público, direta ou indiretamente, através de sua obra.

A arte é uma conversa interminável com o que nos rodeia...

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